ULISSES E O CANTO DOS CONSTITUCIONALISTAS: UMA ANÁLISE DA TEORIA DOS PRÉ-COMPROMISSOS A PARTIR DA OBRA DE FRANÇOIS OST
Palavras-chave:
Ulisses e as Sereias, Constituição e pré-compromissos, Limites ao poder de reforma, Filosofia do Tempo, Mudança vs. Continuidade, François OstResumo
Um dos artifícios utilizados por estudiosos do direito para explicar conceitos legais e justificar posições jurídico-políticas consiste na transposição de passagens e figuras da literatura e da mitologia para o campo do direito. No âmbito do Direito Constitucional, o encontro de Odisseu (Ulisses), rei de Ítaca, com as sereias na volta da Guerra de Troia, conforme passagem da Odisseia de Homero, é um exemplo dessa estratégia, a qual ganhou notoriedade a partir do livro “Ulisses e as Sereias: Estudos sobre Racionalidade e Irracionalidade” (1979), de Jon Elster. O filósofo norueguês aponta que, a partir do paralelo com as experiências do herói grego, as Constituições funcionariam como instrumentos de pré-compromissos de determinada comunidade política contra as futuras tentações relacionadas ao exercício arbitrário do poder. A passagem serve, inclusive, como metáfora justificadora da existência de limitações substanciais ao poder constituinte derivado reformador (poder de reforma), isto é, os tópicos constitucionais que não podem ser objeto de discussão mediante emenda constitucional, posto que imutáveis (cláusulas pétreas). Dessa forma, a partir dos apontamentos da obra do jurista e filósofo François Ost, o presente artigo objetiva identificar as contribuições desse autor belga ao debate sobre a Constituição e as limitações materiais ao poder de reforma, considerando, para tanto, o paradoxo constitucional da mudança vs. continuidade inserido na filosofia do tempo.
Referências
BARROSO, Luís R. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Editora Saraiva, 2023. E-book. ISBN 9786553624788.
BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CONSANI, Cristina Foroni. Pré-compromisso constitucional e autonomia coletiva: podem ser conciliados?. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), v. 3, pág. 235-242, 2015.
ELSTER, Jon. Ulisses Liberto. Estudos sobre racionalidade, pré-compromisso e restrições. Trad. Cláudia Sant’Ana Martins. São Paulo: Ed. Unesp, 2009.
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Prefácio à obra “introdução ao direito econômico. Disponível em: <https://www.terciosampaioferrazjr.com.br/publicacoes/direito-economico-curso>. Acesso em: 02 de dez de 2023.
HAYEK, Friedrich. 2011. The Constitution of Liberty: The Definitive Edition. Chicago, Chicago University Press. http://dx.doi.org/10.7208/chicago/9780226320519.001.0001.
HOGEMANN, Edna Raquel. O Prometeu revelado em Epimeteu ou quando o caminhar da tecnociência desconhece direitos humanos. Revista Internacional Consinter de Direito, p. 229-245, 2022.
HOLMES, Stephen. El precompromiso y la paradoja de la democracia. Constitucionalismo y democracia, p. 217-262, 1999.
HOMERO. Odisséia, Livro XII. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
LEWANDOWSKI, Ricardo. A espada de Dâmocles do impeachment. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 out. 2021. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/10/a-espada-de-damocles-do-impeachment.shtml>. Acesso em: 20 fev. 2025.
MENDES, Gilmar F.; BRANCO, Paulo Gustavo G. Curso de direito constitucional (Série IDP. Linha doutrina). São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786553620506.
OST, François. O tempo do direito. Bauru: Edusc, 2005.
SANTOS, Samuel Martins dos; DE OLIVEIRA, Cláudio Ladeira. Pré-compromisso constitucional e democracia: uma análise conceitual a partir das obras de Jon Elster, Stephen Holmes e Jeremy Waldron. Revista da Faculdade de Direito do Sul de Minas, v. 38, n. 1, p. 214-232, 2022.
SARMENTO, Daniel. Direito adquirido, Emenda Constitucional, Democracia e a reforma da Previdência. In: TAVARES, Marcelo Leonardo (org.). A Reforma da Previdência Social – temas polêmicos e aspectos controvertidos. Rio de Janeiro: Lúmen Iuris. 2004.
SILVA, Luís Virgílio Afonso da. Ulisses, as sereias e o poder constituinte derivado. Revista de direito administrativo, v. 226, p. 11-32, 2001.
VIEIRA, Oscar Vilhena. A Constituição como reserva de justiça. Lua Nova: revista de cultura e política, p. 53-97, 1997.
WALDRON, Jeremy. Political Theory: essays on institutions. Cambridge: Harvard Univeristy Press, 2016.